terça-feira, 28 de outubro de 2008

lapsus

A memória, ás vezes,
nos prega peças,
pequenas ou grandes,
em sonhos,
em vida,
na retina,
no olfato,
na audição
ou em todos os sentidos juntos
de uma única e só vez,
"enlouquecedouramente",
e o que fazemos então...?
Criamos memorias analíticas
para evitar o "ensurdercimento" do ser...
e de resto o que será de nós?
"Lapsus".
Escadas,
intermináveis escadas do querer saber
e do se perder em degraus
...é que a memória as vezes nos prega peças.

video -LAPSUS

terça-feira, 21 de outubro de 2008

vista-se

Em um desses dias de “inverno primaveril” paulistano abri meus scraps e deparei com uma imagem de um homem no casulo. Ainda sonolento e com a cabeça recheada de sonhos diurnos liguei o “oráculo de Delfos” (TV) e comecei a receber milhões de informações distorcidas sobre cirurgias e outros procedimentos estéticos: 450 ml de silicone nos seios, 150 ml no bumbum, aumento labial, etc... etc... etc..., tudo em suaves parcelas. Transformar o corpo em um rascunho passível de ser corrigido, modificado, contanto que esta modificação se relacione em sua exclusividade aos atrativos sexuais da fêmea/macho, tem o aval social e do “oráculo”. A preocupação obsessiva aponta para o que se chama dismorfia corporal ou transtorno dismorfico. Do outro lado dessa moeda corrente, nos deparamos com o corpo visto como arte, na 1ª Conferência de Body Art, Suspensão e Body Modification (FRRRKCON) ocorrida no dia 18/10 na cidade de São Paulo. No decorrer do evento foi mostrado ao publico presente a arte no corpo em suas mais diversas vertentes, dentre elas suspensões, performances, moda e arte .

Este tipo de modificação corporal não esta esteticamente ligada aos atributos sexuais do Ser social e nosso “oráculo” diário não nos dá visibilidade do mesmo e quando isto ocorre, a visibilidade se pauta na total estranheza.
Mas retornando ao meu scrap e a imagem do homem no casulo, é bom

lembrar que ao sair da embalagem nos temos total direito a diversidade como toda e qualquer borboleta que se preze como tal, contanto que isto não seja provido, imbuído de um produto de consumo imediatista e sem sentido como nos estimula nosso querido “oráculo” de todo dia.


visite o site do evento:www.frrrkcon.com

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Para pensar um pouco...

As faces do planeta
(moscas sobrevoam a lata)

Desde a primeira foto feita da terra na década de 1960 ate as ultimas divulgada pela Agencia Espacial Européia em 16 de Abril de 2008, muitas águas rolaram debaixo da ponte, águas tão límpidas quanto às águas atuais do Rio Tiete.
Divulgada as imagens tem-se o conhecimento do lixo espacial acumulado na órbita terrestre. Há cerca de 12 mil objetos em volta do planeta, a maioria de satélites mortos, pedaços de foguetes e outros materiais sobre os quais não se tem nenhum controle, um verdadeiro vale do Jequitinhonha. NOSSA atitude quanto a tudo o que diz respeito ao planeta é a atitude de alguém em um porto esperando um barco para partir para um outro porto, quando na verdade este “outro” porto não existe.

terça-feira, 12 de agosto de 2008


as escadas são estáticas

nas arenas se deliciam os entes


em cada esquina


luzes da paulista

terça-feira, 5 de agosto de 2008


"pelos cantos de brechós"

A noturna urbana Saõ Paulo

Minhocão

São Paulo-vista do Copan

terça-feira, 29 de julho de 2008

Luis Fernando Verissimo


Defenestração


Certas palavras tem o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deviam criar falácias em todas as suas variedades. A falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra.
Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Aonde eles chegassem, tudo se complicaria.
-Os hermenautas estão chegando!
-Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada...
Os hermenautas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter um sentido oculto.
-Alô...
_O que é que você quer dizer com isso?
Traquinagem devia ser uma peça mecânica.
-Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.
Plúmbeo devia ser o barulho que um corpo faz ao cair na água.
Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração.
A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar deveria ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres.
-Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas... Ah, algumas defenestravam.
Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores profissionais.
Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas que encerravam os documentos formais? ”Nestes termos, pede defenestração...?”
Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-la uma ou outra vez, como em:
-Aquele é um defenestrado.

Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer?
Defenestrada. Mesmo errada, era a palavra exata.
Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E ai está o Aurelião que não me deixa mentir. “Defenestração” vem do francês “defenestration”.
Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou algo pela janela.
Ato de atirar alguém ou algo pela janela!!!!
Acabou a minha ignorância, mas não a minha fascinação. Um ato com este só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, ao existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada a baixo. Por que, então, defenestração?
Talvez fosse hábito francês que caiu em desuso. Como o rapé. Um vício tabagismo ou as drogas, suprimido a tempo.
-Les defenestrations. Devem ser proibidas.
-Sim; monsieur Le Ministre.
-São um escândalo nacional. Ainda mias agora, com os novos prédios.
-Sim; monsieur Le Ministre.
-Com prédios de três, quatro andares, ainda era admissível.
Até divertido. Mas daí pra cima vira crime. Todas as janelas do quarto andar pra cima devem ter um cartaz “Interdit de defenestrer “. Os transgressores serão multados. Os reincidentes serão presos.
Na Bastilha, o Marquês de Sade deve ter convivido com notórios defenestreurs. E a compulsão, mesmo suprimida, talvez ainda persista no homem, como persiste na sua linguagem. O mundo pode estar cheio de defenetradores latentes.
-É esta estranha vontade de atirar alguém ou algo pela janela, doutor...
-Hmm. O impulsus defenestrex de que nos fala Freud. Algo a ver com a mãe. Nada com o que se preocupar-diz o analista, afastando-se da janela.
Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculante foi inventada para desencorajar a defenestração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes externas de vidro reforçado e sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia humana, nunca totalmente dominada.
Na lua-de-mel, numa suíte matrimonial no 17* andar.
-Querida...
-Mmmmm?
-Há uma coisa que eu preciso lhe dizer...
-Fala, amor
-Sou um defenestrador.
E a noiva, em sua inocência, caminha para a cama:
-Estou pronta pra experimentar tudo com você. Tudo!
Uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada. Entre gemidos, ele aponta pra cima e balbucia:
-Fui defenestrado...
Alguém comenta:
-Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela!
Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar o papel da maquina, amassá-lo e defenestrar esta crônica. Se ela sair é porquê resisti.
Eduardo Galeano


Negócio

“A guerra contra o terrorismo será longa”, anunciou o presidente do planeta. Má noticia para os civis que estão morrendo e morrerão, excelente noticia para os fabricantes de armas.
Não importa sejam eficazes. O que importa é que sejam lucrativas. Desde o 11 de setembro, as ações da General Dynamics, Lockheed, Northrop Grumman, Raytheon e outras empresas da indústria bélica subiram verticalmente em Wall Street. A bolsa as ama.
Como já ocorreu nos bombardeios do Iraque e da Iugoslávia, a televisão raramente mostra as vitimas no Afeganistão: está ocupada na exibição da passarela de novos modelos de armas. Na era do mercado, a guerra não é uma tragédia, mas uma feira internacional. Os fabricantes de armas precisam de guerras como os fabricantes de abrigos precisam de invernos.